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segunda-feira, 31 de março de 2014

O Elefante e a Estaca

 

Será que não somos como um elefante acorrentados ... acorrentados pela nossas crenças e limitações impostas pelas religiões, sociedades, família etc?


O  texto abaixo, foi extraído de: “Deixa eu te contar uma história ... contos que me ensinaram a viver” Jorge Bucay – Editora Planeta nos leva a uma profunda reflexão


Quando eu era criança, adorava o circo, e o que mais gostava de ver eram os animais.

 O elefante era o que mais me chamava a atenção. Durante o espetáculo, aquele animal enorme fazia uma demonstração de peso, tamanho e força descomunal… Mas depois da apresentação, ele ficava amarrado por uma das patas com uma corrente presa numa pequena estaca cravada no chão.

 Embora a corrente fosse grossa e resistente, me parecia óbvio que o elefante, capaz de arrancar uma árvore pela raiz com sua força, poderia facilmente arrancar a estaca e fugir. O mistério era evidente: por que ele não fugia?

 Quando eu tinha 5 ou 6 anos e ainda confiava na sabedoria dos adultos, perguntei a um professor sobre o mistério do elefante.


Ele me explicou que o animal não fugia porque era adestrado. – Se é adestrado, por que o acorrentam? – perguntei. Não me lembro de ter recebido qualquer resposta coerente.

 Com o tempo, esqueci um pouco essa história e só me lembrava dela quando encontrava alguém que tinha a mesma dúvida que eu. Há alguns anos conheci uma pessoa sábia o bastante para dar uma resposta: o elefante do circo não foge porque sempre esteve preso a uma estaca parecida com essa – desde muito pequeno.

 Fechei os olhos e imaginei o elefante recém-nascido preso à estaca.
Tenho certeza de que naquele momento o elefantinho empurrou, puxou e suou, tentando se soltar. E, apesar de tanto esforço, não conseguiu. A estaca certamente era forte demais para ele. Eu poderia jurar que ele dormiu, exausto, e no dia seguinte fez tudo de novo, e também no seguinte, e no seguinte… Até que um dia aceitou sua impotência e resignou-se ao seu destino.

 Esse enorme e poderoso elefante que vemos no circo não escapa porque acha que não pode.

 Ele tem o registro e a lembrança de sua incapacidade, aquela que sentiu logo depois de nascer. O pior é que nunca mais voltou a questionar isso.

 E jamais tentou pôr sua força à prova novamente. – É isso aí, Demián. Todos somos um pouco como esse elefante do circo: vivemos amarrados a muitas estacas que nos tiram a liberdade.
Acreditamos que “não podemos” um monte de coisas, simplesmente porque alguma vez, quando éramos crianças, tentamos e não conseguimos. Então fizemos o mesmo que o elefante.

 Gravamos na memória um registro de incapacidade e repetimos “Não posso… Não posso e nunca poderei”. Fiquei olhando para ele, calado. – Crescemos carregando essa mensagem que nos impusemos e nunca mais voltamos a tentar – disse ele. – No máximo, sentimos os grilhões e, de vez em quando, fazemos soar as correntes ou olhamos para a estaca e confirmamos o estigma: “Não posso e nunca poderei!”.

 Jorge fez uma longa pausa; depois se aproximou, sentou-se no chão à minha frente e concluiu: – Isso é o que acontece com você.

 Você vive condicionado pela lembrança de que outro Demián, que já não existe, não conseguiu. A única maneira de saber se você pode agora é tentar novamente, usando todo o seu coração… Todo o seu coração.

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